domingo, dezembro 27, 2009

Fragmentos de uma noite quente. Parte 1

(...)
Ela- A verdade é que quando você não tem tempo para nada você vai lá e resolve tudo, e quando você tem tempo para tudo acaba não resolvendo nada, que merda!

Ele- Acho que você deveria trabalhar em um livro novo. Por que você não tenta?

Ela- Primeiro, porque falta talento. Segundo, porque eu não sou escritora.

Ele- Ah não! Você é o quê então?

Ela- Eu... sou eu! Eu poderia fazer que nem a Sophie Calle, né? Começar a expor radicalmente a minha intimidade até transformar tudo em arte. Aí eu nunca mais ia ter que ficar pensando no que responder quando me perguntassem o que estou fazendo. Poderia responder:Estou em processo! Processo é bonito. Processo de criação! Olha que bonito. E aí me perguntariam sobre o quê, e eu responderia: Sobre o infinito íntimo que nos habita!
(olha muito séria para ele e começa a rir).

Ele- Vou colocar essa frase no roteiro. (pega o Laptop)

Ela- Poxa! Assim vou ter que inventar um plano B para ser a solução da minha vida... Quero me mudar para São Paulo!

Ele- Ah tá. Só isso?

Ela- Só.

Ele- Assim do nada?

Ela- Não é do nada. O rio é foda mas, é bonito demais, presente demais, é tudo tanto que te oprime. São Paulo não. São Paulo é uma cidade de gente. Uma cidade moldada pelos cidadãos, nós aqui, somos moldados pela cidade. Não tem jeito, ninguém resiste a tanta exuberância.
(Pausa) Vou para cama!

Ele- Não senhora, você vai se arrumar e vai correr na lagoa. Vai vai, aproveita que você vai morar em São Paulo e vai curtir a Lagoa que lá só vai ter o Ibira.

Ela levanta lentamente e segue em direção ao quarto.

domingo, novembro 01, 2009

Vôo Livre

O que nos leva escolher a vida a sós?
Nascemos e somos criados para viver em grupos subdivididos em quartetos e suas duplas.
Precisamos socializar dividir.
Mas, escolhemos muitas vezes estarmos sós.

Porquê se quando se vive sozinho se quer preencher?
Porquê se quando sozinhos a vida muitas vezes parece escorregar por nossas mãos pois, só se faz concreta pelo olhar alheio?
Porquê ?
Porquê se entre o quê se vive, o quê se sonha e o quê se pensa a única diferença está no fato de que o quê se vive, se vive com outros, se vive, revive e compartilha e é na memória do outro, ou outros, que a memória se faz concreta. Quando na nossa, sozinha se faz imagem sem corpo?

Porquê se escolhe ser rarefeito?

O quê leva alguém como eu ou você não querer ser nada além de um sopro de si mesmo, de um canto no vazio? Porquê buscar tanto ar para preencher vazios imaginários?

Acho que às vezes só quero dançar sem que ninguém veja. Mas quando isso acontece... finalmente eu queria você aqui, que eu nem sem quem é, que eu nem sei se sou, para rodopiar... em silêncio.

sexta-feira, agosto 21, 2009

NO RESPONSE

Como se faz isso?
Como sair de onde não se está? Ou não se sabe... se está.

Como se abandona o que não se vive?
Como se magoa com o que não foi feito?
Como se guarda o que nunca foi?

Será sempre o mesmo vazio?

Eu quis assim.
Eu fiz assim.
E vou assim.

?

Já nem somos mais nada. Pelo menos, não tudo.
Do que poderíamos ter sido.

segunda-feira, julho 06, 2009

Op. 27 n.2 Sonata para piano nº14

Ela anda de um lado para o outro na comprida sala iluminada por dois abajures. Sente mais que qualquer outra coisa o frio do ladrilho hidráulico cor de terra que toca a única parte nua do seu corpo. Está frio, exageradamente frio para uma cidade sempre quente e úmida como o Rio de Janeiro, e isso a deixa feliz. Diz que se sente viva frente ao improvável mas, sabe que mesmo com os novos horizontes, tudo acontece e acontecerá da mesma forma como antes. Tenta não entristecer e põe uma música aleatória, é a quinta ou nona sinfonia de Beethoven, ela nunca sabe dizer qual é qual. A música traz ares excessivamente dramáticos a cena, transformando tudo aquilo em um grande momento cômico. Ela percebe o corpo derretendo pelo sofá em uma gargalhada incontrolável e solitária, mais solitária que incontrolável. Sabe que nunca dividirá um momento como aquele com mais alguém e ri ainda mais, ri do próprio ridículo. Ninguém nunca irá saber de verdade nada daquilo, nada verdadeiramente dela. São muitas as camadas entre aquele momento e qualquer outra pessoa. O relógio já avançara algumas boas horas no novo dia, não é hora de histeria, então prepara um chá que a invade lentamente junto com a fumaça, não a sua mas, do papel e do tabaco. Ela pensa na morte e sente alívio e repulsa ao mesmo tempo. Tanto a fazer. Mas, sempre assim, nesse lugar onde dia a dia se dissolve a barreira entre a vida e os sonhos. Esse, talvez seja um dos poucos momentos de lucidez dos últimos tempos. Não faz diferença, será invariavelmente, mais um ponto isolado a ser lembrado daqui a meses quem sabe, em um outro momento como aquele. O que ela estará fazendo enquanto preenche essa lacuna? Não se sabe. Já não sabe muita coisa, está se inebriando novamente. Em poucos minutos, apesar de seus esforços, a vida, em sua aura de sonho, virá tomar conta e ela não terá mais tempo ou paciência para estar entregue a nada daquilo. Termina sabendo que se um dia conseguir escrever sobre o amor, o fará na forma de pequenos contos.

terça-feira, março 10, 2009

Paralisia temporal

Canso de não me cansar de mais nada.


Quando tudo corre onde deve correr, as arestas que sobram parecem cada vez mais afiadas e a minha vontade de ingnorá-las vai se transformando em uma angústia branda que a cada dia vai se alimentando e aumentando, até o momento, em breve, em que se tornará um monstro.


...Ou uma anjo.


Que me fará optar.


Nunca aprendemos a fazer escolhas.



As vezes é preciso deixar



...



vazar.