(...)
Ela- A verdade é que quando você não tem tempo para nada você vai lá e resolve tudo, e quando você tem tempo para tudo acaba não resolvendo nada, que merda!
Ele- Acho que você deveria trabalhar em um livro novo. Por que você não tenta?
Ela- Primeiro, porque falta talento. Segundo, porque eu não sou escritora.
Ele- Ah não! Você é o quê então?
Ela- Eu... sou eu! Eu poderia fazer que nem a Sophie Calle, né? Começar a expor radicalmente a minha intimidade até transformar tudo em arte. Aí eu nunca mais ia ter que ficar pensando no que responder quando me perguntassem o que estou fazendo. Poderia responder:Estou em processo! Processo é bonito. Processo de criação! Olha que bonito. E aí me perguntariam sobre o quê, e eu responderia: Sobre o infinito íntimo que nos habita!
(olha muito séria para ele e começa a rir).
Ele- Vou colocar essa frase no roteiro. (pega o Laptop)
Ela- Poxa! Assim vou ter que inventar um plano B para ser a solução da minha vida... Quero me mudar para São Paulo!
Ele- Ah tá. Só isso?
Ela- Só.
Ele- Assim do nada?
Ela- Não é do nada. O rio é foda mas, é bonito demais, presente demais, é tudo tanto que te oprime. São Paulo não. São Paulo é uma cidade de gente. Uma cidade moldada pelos cidadãos, nós aqui, somos moldados pela cidade. Não tem jeito, ninguém resiste a tanta exuberância.
(Pausa) Vou para cama!
Ele- Não senhora, você vai se arrumar e vai correr na lagoa. Vai vai, aproveita que você vai morar em São Paulo e vai curtir a Lagoa que lá só vai ter o Ibira.
Ela levanta lentamente e segue em direção ao quarto.