Onze dias, ela tinha contado. Onze dias desde que envelhecera um pouco de vida.
Passado o choque, ela se viu ali, parada, olhando de fora a dor que lhe roubara pedaços dos sonhos. Não de sonhos concretos, desses dos quais se quer alguma coisa. Mas, daqueles que nos fazem seguir, andar olhando pra frente, sem pestanejar.
Era o final de um domingo bonito, agradável. Esses dias ensolarados de inverno no Rio de janeiro, onde o sol é carinhoso, a brisa suave e as cores e sombras fazem a fotografia do filme mais bem cuidado parecer brincadeira de estudante.
Mas, algo parecia fora do lugar: O dissipar da tristeza. Um movimento natural e ao mesmo tempo incoerente. A vida que seguia a enchia de uma melancolia doce, de uma certeza de que crescer tinha mais a ver com encontrar fé no improvável do que com aprender a caminhar.
Não existia a menor possibilidade de se acostumar com a dureza dos fatos, com a certeza de que apesar da grandiosidade dos acontecimentos, o mundo não pararia. Tudo seguiria igual. Os carros, os faróis de trânsito, as crianças nas escolas, as conversas nos bares, as fábricas, os sons, as cores... Tudo seguiria igual, naquele mundo diferente.
Ela queria saber palavras que dessem sentido a todo esse circo de carne, ar e concreto. Mas, as palavras, não vinham.
As imagens, lindas, que a cercavam por todos os lados, pareciam nada além de uma grande folha de papel em branco. Imagens vazias de sentido, mas repletas de sentimento, inundadas pela vida que corre, vivida.
Ilusão partida da vida que segue.