terça-feira, maio 04, 2010

Desculpe a incoerência.

Ela não sabia onde estavam seus pés, pernas ou braços.

Seu corpo já não era mais nada além de uma imensa massa de ar seco, que estufava suas veias e roubava-lhe a vida.

Tinha esquecido de si, dos seus porquês, de sua força.

Não sentia mais fome, sede, pavor, só sobrava o nada.

E a imagem daqueles olhos... Que lançavam todo o frio, a raiva e a dor que a matavam aos poucos, mutilando seus sonhos como o pior dos carrascos de um feio filme medieval.

Até aqui, ela sabia-se forte, e agora, não era nada. Nada além daquele monte de ar e galhos tortos e secos.

O inverno chegara mais cedo do que o anunciado. Sufocando o perfume do outono, de suas damas da noite, trazendo só a umidade viscosa da terra molhada.

No lugar da esperança da brisa macia e das cores suaves fez-se a maior das nevascas.

E agora ela está alí, imóvel, imersa no frio, nas cinzas de um mundo de água salgada.