sexta-feira, abril 27, 2012

Devaneios Sobre a Neblina

Metade da Parte 15.


Existe sempre um momento em que tudo deve encontrar o seu devido lugar. Pensou Manuela enquanto ainda com as mãos trêmulas jogou um enorme trago de fumaça para dentro dos pulmões. Mas antes mesmo que pudesse terminar de exalar aumentando ainda mais a nuvem cinza que se formava no quarto herméticamente fechado, uma questão voltou a sua mente a inquientando ainda mais. E as fissuras? Por mais que tudo se curasse com o tempo não era possível que tanto sacolejar não deixasse arranhões, machucados, aberturas imensas dentro do seu corpo, transformando aos poucos sua carne em um tecido poroso e rarefeito, frágil como um pedaço de argila. Era assim que ela se sentia naquela noite, como um enorme galho seco jogado esquecido nas margens de uma praia qualquer. No momento em que Rafael mais uma vez bateu a porta enfurecido antes de sumir pelo corredor, ela teve certeza de que nunca mais desejaria-o de novo. Mas, depois de três cigarros e algumas poucas respirações, sua ausência parecia roubar-lhe as forças e ela já precisava dele novamente. Não como uma criança precisa da mãe, mas da sua chupeta, do seu brinquedo favorito, do seu amuleto da sorte sem o qual não se sentiria confiante para enfrentar qualquer tipo de provação. Ele tinha virado seu Deus. E por isso ela precisaria matá-lo. Mas, como seria isso. Ela não se sentia forte o sufieciente nem para abrir as janelas, de onde tiraria coragem para arrancá-lo da sua vida? Ela não se reconhecia mais ao lado dele, mas também já não sabia mais ser qualquer coisa sem a sua presença. Pensou em fugir ou em se atirar pela janela. Mas tudo parecia complicado ou definitivo demais. Desejou abrir a caixa cheia de recordações e fotos da sua vida ao lado de Felipe, queria lembrar desesperadamente como era aquele amor tranquilo que ao mesmo tempo que a sufocava também a acolhia, mas tinha abandonado todos aqueles papeis no dia em que foi embora e junto com eles ficaram todos os vestígios de memória. Ela não era mais aquela, mas também não sabia no que havia se tornado. Abandora a sua vida de sonho para encontrar algo que lhe parecesse real, mas irônicamente tudo aquilo parecia um labirinto tão grande e ela estava exausta sem nem ao menos ter começado a procurar a saída. Desejou o colo da mãe se a sua tivesse algum para oferecer, mas ela sabia que isso não passava de mais um desejo infantil que jamais seria realizado. Procurou lágrimas para salgar a boca, mas estava mais seca do que nunca. Sufocada pela fumaça do quarto e por seus pensamentos agarrou uma das máquinas fotográficas descartáveis que havia comprado com Rafael na semana em que se conheceram no intuito de registrarem tudo para evitar que o tempo os levasse com ele, ideia de Rafael é claro, e saiu pela rua do jeito que estava, só com o brinquedo de plástico e um par de chaves no caso de querer retornar...

Um comentário:

Edson Salvador Simplicio Junior disse...

Não poderia ser diferente dos depoimentos ai. Filme muito bom!
Eu adoro filme e acho que no meu ponto de vista ñ existe ninguém mais critico de filmes que eu, mas critica construtiva é claro. O filme foi prendendo minha atenção cena por cena e quando chegou na metade eu disse;-Vou até o fim. Ñ entendi muito o pq do menino ter feito vc de refém já que ele ñ estava errado. Quando ele foi baleado e vc pegou a arma e efetuou disparos e foi morta, soltei um palavrão bem alto aqui em casa P.Q Pariu. kkkk. Acabei acordando minha mãe aqui e perguntou se eu com 32 anos já estava ficando doido.kkkkk Ai respondi: Pra que ela saiu atirando?kkkkk
(Era uma vez)Filme.