sábado, julho 24, 2004

Menina Pedra


Eu queria ser uma amendoeira.
Ou um lindo Ipê roxo, ou amarelo.
Ter a natureza certa e imóvel das árvores.
Uma árvore, ao contrério de um homem, é real.
Uma árvore É uma árvore.
Não escolhe o quê será, o quê fará. Árvore é Árvore, o que uma árvore faz é seu. Dá frutos, faz sombra, enfeita o ambiente que a cerca. É casa de macacos, passarinhos e crianças. Purifica o ar, fornece vida ao planeta e, em troca, tem um espaço que é só seu.
E, sofre muito menos a ação do tempo do que do próprio espaço, que dela faz parte. O que reforça ainda mais o seu estado de SER.
Uma árvore não comete erros, no máximo possui galhos secos, pedaços inférteis, que convivem com sua natureza provedora sem a ela nada acrescentar mas, também sem nada prejudicar.
Uma árvore é mãe sem ser mulher.
Estática, a mesma dentro do seu ciclo de mutabilidade, tão constante que se torna imutável.
Felizmente em um único ponto tal característica lhe escapa, é mortal.
Triste é ser pedra, que tem o mesmo poder de "SER" desafiado exatamente por ser eterna.
Uma pedra nunca morre, pelo contrário, com o passar do tempo ela se multiplica em fragmentos que sobrevivem independentes do todo. Cada pedaço mantém as características necessárias para continuar sendo chamado pedra, mas uma outra pedra. A transformação morfológica lhe destitui da única característica que a torna individual. Sua forma é o que lhe dá a possibilidade de SER, e a retira. A cada novo estado morfológico, já não são mais o que foram e muito menos são o que são.
Eternamente incompletas.
Como as pedras somos nós, humanos.

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